sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Eles passaram e eu passarinhei!


Quer falar de bullying? Fala comigo, apanhei todos os dias na saída da escola. Devo ter sido a guria que mais apanhou entre 1971 e 1978 no grupo escolar Euclides da Cunha, ali em frente ao antigo estádio dos Eucaliptos.

Nunca pensei em suicídio nem em entrar na escola metralhando todo mundo. Mas que tive vontade de sumir, cavar um buraco e enfiar a cabeça, isso tive. A cabeça que ardia, de tanto puxarem meu cabelo durante a aula. No rosto, a mão de uma colega estampada, um contorno vermelho que eu ia desfilando pelas ruas no trajeto entre o local do crime e a minha casa. E apanhava de novo, em casa, pra aprender a ser agressiva, deixar de ser "moscona" e me defender. Nunca me defendi, nunca bati em ninguém, revidei ou fiz qualquer maldade. Não por medo das consequências, mas por achar a agressão física coisa de gente burra, sem argumento. Bem, pensar assim naquela escola já era motivo para apanhar mais ainda. E todo dia tinha que voltar aonde sabia que coisas ruins aconteceriam.

Pra completar, tinha uns primos que me chamavam de gorda o tempo todo, com aquele prazer sádico nos olhos. E eu nem era gorda (vide foto), logo, apenas a maldade os movia. Eu chorava muito, por um bom tempo fui uma tímida solitária, me achava gorda e horrorosa, até ia nas "reuniões dançantes", mas não dançava. Imagino que se me sentisse mais segura, teria sido uma puberdade mais legal, mais divertida, mais livre.

Tive uma infância bacana, minha casa era porto de comunistas, artistas, havia festas e reuniões políticas com gente de todo o tipo, me divertia muito em família e aprendia tudo do mundo com essas pessoas maravilhosas com quem pude conviver. Mas na escola era diferente, era guerra. Foi difícil, eu não tinha muito onde e com quem me socorrer, a direção da escola não queria saber de briga de aluno (aluno era merda na ditadura) e, em casa, havia um filme de terror acontecendo - o acidente da minha irmã, que em 1973, aos 20 anos de idade, ficou paraplégica para sempre. E a vida mudou pra sempre.

Depois de um tempo, o bullying começou a parecer bobagem perto da luta da minha irmã pra sobreviver. A força de vontade daquela linda moça que eu amava tanto e que superava todas as dificuldades e expectativas me fez sentir uma guria mimada, meus problemas eram ridículos perto dos dela! Aí se foram a infância e a inocência.

Mas da timidez e do medo da vida em sociedade só me livrei quando fui "procurar minha turma" e encontrei no Julinho e na militância estudantil - nada como a abertura de novos horizontes e novas e boas amizades pra te ajudar a achar o rumo, amadurecer. Sequelas ficaram, claro, balança e espelho são problemas, mas que mulher não se acha gorda? Eu sou muito feliz, realizada como mulher, profissional e mãe. Não sei se hoje são felizes as pessoas que me machucaram, física e psicologicamente, mas agradeço toda aquela agressividade e crueldade que me dispensaram. Essas pessoas me fortaleceram e fizeram sentir superior, pelo menos a elas.


7 comentários:

Cloaca News disse...

É por essa e por outras que te amo!

Zeza disse...

Te adoro, meu boy magia...

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Eu percorri o caminho inverso. Nunca fui agressiva, muito pelo contrário, era boa companheira, mas quando sofria bullying, não levava desaforo para casa de jeito nenhum. Depois, virei uma moscona. Coisas que a vida faz com a gente...
Luzia

Anônimo disse...

Não sei se hoje são felizes as pessoas que me machucaram, física e psicologicamente,

Zeza, nunca foram. Eles tinham que tentar diminuir alguém para se sentirem "superiores". Superior é você.

Abraços.