quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ser ou não ser contra: esta não é a questão

O aborto é uma discussão séria que está sendo reduzida a um embate eleitoreiro entre Serra e Dilma. O aborto acontece todos os dias, queiramos ou não, sejamos nós contra ou a favor. As mulheres fazem aborto há centenas de anos, é o método contraceptivo mais antigo, por muitos considerado mais seguro e menos prejudicial à saúde do que a pílula. Desde que feito por um médico e em condições adequadas, óbvio.

A discussão que precisa ser travada sem descanso é o que fazer para que as mulheres parem de morrer por abortar em casa, usando agulhas de tricô, ou em consultórios podres, nas mãos de açougueiros. Esta sim é uma questão séria, de saúde pública, para a qual todos, repito, todos os governos viram as costas.

Por medo de tratar de um assunto que envolve questões morais e religiosas e com isso perder alguns currais eleitorais e apoios financeiros de empresários conservadores ligados a igrejas poderosas, os governantes estão deixando milhares de mulheres morrerem todos os anos. O aborto clandestino é a quarta causa de morte materna no Brasil. Das 87 milhões de mulheres que sofrem todo ano no planeta com o peso de uma gravidez indesejada, mais da metade aborta. Das 46 milhões de mulheres que optam por abortar, 18 milhões o fazem em condições precárias, de forma insegura, insalubre, porque não têm recursos próprios e porque não há amparo legal para que esse procedimento seja realizado em hospitais públicos. Dessas 18 milhões de mulheres abandonadas por seus governantes, 70 mil morrem, ou no momento do aborto ou por infecções consequentes. São dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), não foram inventados por mim, e são baseados em abortos relatados - o número concreto de abortos clandestinos ninguém sabe.

Grande parte dessas mulheres aborta porque já tem filhos e não pode arcar financeiramente com mais uma vida, especialmente nesse novo mundo em que as mulheres se tornam cada vez mais as provedoras do lar. Estas deixam órfãos, pra completar a desgraça. Enquanto políticos demagogos e fanáticos religiosos discutem se é criminosa ou não a interrupção de uma vida embrionária, milhares de crianças estão perdendo suas mães para o aborto clandestino. Mães que são tratadas como criminosas pelo poder público, quando deveriam ser amparadas e orientadas.

E agora, Zé? E agora, Dilma? Quais são seus planos pra evitar o assassinato dessas milhares de mulheres brasileiras, essa chacina que acontece anualmente nas barbas dos nossos governantes? O que vocês propõem para estancar o sangue de milhares de ex-rainhas do lar, hoje chefes de família apavoradas e desamparadas?

Esta é a minha questão, e é urgente.
nonono

15 comentários:

Anônimo disse...

Concordo que não deveria ser questão da área criminal, de forma alguma, e sim assunto envolvendo psicólogos,assistentes sociais, médicos.
Discordo que seja um método contraceptivo válido, uma opção a ser considerada com naturalidade. Para mim, ainda que o ser que foi gerado possa não ter seu sistema nervoso (plenamente) formado, já é uma vida a se desenvolver, e a mulher (e o homem, claro) que gerou essa nova existência que agora se abriga e se desenvolve nela deveria ser responsável por isso e tratar de gestá-la, buscando o apoio necessário. Sempre há a opção de buscar quem adote esse bebê, não acho que removê-lo como se fosse um apêndice seja uma decisão correta.

Anônimo disse...

Olá!
Como faço para seguir no twitter. Não estou encontrando no blog.
Jouber

Zeza disse...

Olá, Jouber

O twitter do blog é cafeeaspirinas:

http://twitter.com/cafeeaspirinas

você será meu terceiro seguidor... hehehe

obrigada pela preferência!

Zeza

Anônimo disse...

Já estou seguindo.
Abraço!!!
Jouber

Carina Kunze disse...

Muito bom, mesmo! PS: to te esperando, são oito e meia, hehehhe

Artur disse...

Vamos com calma:

1) Os dados da OMS eu conheço mas esse de 'quarta causa de morte materna no Brasil' veio da onde? E mesmo que seja correto, o que dá em números absolutos? Uma coisa é 100.000 mortes e outra é 500 mortes.

2) Simplesmente 'liberar' o aborto desconsideraria o direito do pai. E se ele quiser ter o filho? Isso não importa? No mínimo ele teria que ser ouvido. Não é uma decisão que caberia exclusivamente a mulher.

3) O argumento que o aborto já corre solto não é tão válido assim. O crack tambem corre solto... Tem que melhorar esse argumento se quiser usá-lo.

4) Me responda: conhece alguem que foi fazer atendimento de curetagem no SUS (ou seja, fez aborto em casa, passou mal, e foi pro hospital) e saiu de lá presa? Isso simplesmente não acontece!

Tenho outros argumentos mas procurei não usar nenhum moral.

Ainda não encontrei quem me mostrasse pelo menos um argumento forte para alterar a atual legislação sobre o aborto no Brasil. Pra quê mexer?

Abraços,
Artur

Anônimo disse...

Artur

Você está falando de um mundo ideal, irreal na vida das mulheres pobres. Papai, mamãe e filhinhos não existe mais como padrão da família brasileira. Em que camada social você vive? Em que planeta??

ina disse...

Quero repetir a pergunta que já foi feita. Artur, em que camada social e em que mundo você vive? Se o aborto corre solto? Peça pra sua mãe! Peça pra sua namorada, pra alguma amiga sua! Com certeza elas conhecem mulheres que por diversos motivos adotaram essa prática. O aborto existe e a questão é dar dignidade e segurança às mulheres que abortam, não discutir a moralidade ou imoralidade do procedimento!

Zeza disse...

Caro Artur, as informações referentes ao Brasil são da OMS e do Ministério da Saúde, que afirmam que 31% dos casos de gravidez no nosso país acabam em abortamento. Faça as contas.

Apesar de afirmar que não está fazendo crítica moral, você disse que o pai tem direito a decidir sobre a gestação, quando todo mundo sabe que é dentro do corpo da mulher que o filho é fabricado. Admita que muitos dos casos de aborto clandestino de devem primeiramente ao abandono dessas mulheres pelo "pai" da criança. Que tal considerar isso um crime?

Perguntinha: faz alguma diferença pra você se morrem 500 ou 100.000 mulheres por aborto clandestino? Uma só morte me deixa irada.

Seus comentários continuarão bem-vindos.

Anônimo disse...
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Dilson Águia disse...

Quando vamos parar com tanta hipocrisia e tratar os assuntos sérios deste país com responsabilidade? Não se pode atribuir tão alto índice de mortandade ao acaso, a igreja deveria esta mais preocupada era em resolver a grande saga de pedofilia que ocorre em todo mundo(sob os tetos eclesiásticos) e nada é feito para sanar o problema..........O aborto é sim um caso de SAÚDE PÚBLICA e deve ser tratado com políticas públicas sociais independente de sigla partidária.

Anônimo disse...

Muito bom o comentário. To te seguindo no Twitter. O meu blog é www.betobertagna.com abs.

Forrest disse...

O Zezinho ontem no debate da Rede Tv(17-10-2010)fez uso de uma estratégia um tanto quanto ilícita e não é que colou, explico: as perguntas feitas por Dilma ao danado não eram respondidas de imediato após pergunta e sim após a réplica quando já em uso da tréplica, com isso o malaquias não deixava chance da sua opositora (Dilma) defender-se........vi isso como uma falha da entidade televisa ou até mesmo do mediador, pois poderia muito bem determinar as regras para respostas das perguntas.

Jorge Luis disse...
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Jorge Luis disse...
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